domingo, 1 de dezembro de 2013

Um Sonho de Natal

25 de dezembro. Este ano tive a vontade de dar à minha família e a mim mesmo um Natal diferente de todos os outros. Em vez de ficarmos em casa a empanturrar-nos de comida e guloseimas, optei por pegar no carro e ir com os meus amores, por este nosso belo país, sem destino traçado.
            Saímos cedo para aproveitarmos ao máximo o dia. À nossa volta só se via um manto branco provocado por um valente nevão que caíra dois dias antes. Esta imagem fez sempre parte do meu imaginário desde criança. Como vivo na grande cidade, nunca imaginei ter o privilégio de ter um Natal pintado de branco. Que belo presente este.
            O ambiente no carro é excelente. A alegria, o amor e a paz transbordam em todos nós. Os meus filhos estão super felizes por terem um dia assim; a minha esposa, essa, tem um brilho nos olhos como eu nunca tinha visto em muitos anos de casamento. O autorrádio, esse, ajuda a essa harmonia tocando só músicas alusivas à quadra que estamos a viver.
            As horas iam passando e a fome apertava. Decidi parar no próximo café que encontrasse aberto para tomarmos um pequeno-almoço bem reforçado, pois o dia prometia.
            Paramos numa aldeia típica. Onde as casas eram todas feitas em pedra de xisto. A poucos metros de distância, por cima de uma porta, vimos um letreiro “Taberna do tio Joaquim”. Olhamos uns para os outros e arriscamos entrar. Que belo sitia aquele que acabávamos de descobrir. Ali respirava-se ao Portugal genuíno, onde a ruralidade faz parte do código genético do país.
Ao fundo, por trás do balcão, tínhamos um senhor cuja idade deveria rondar os 70 e muitos anos.
            – Entrem, entrem! Fiquem à vontade. A minha casa é a vossa casa. – diz o senhor com a maior das simpatias.
            Suspeitávamos que ali não se ia comer um pequeno-almoço à qual estávamos habituados no nosso dia-a-dia na cidade. Sentamo-nos numas das mesas de madeira que existia naquele espaço, não deviam ser mais que cinco mesas.
            O senhor aproximava-se de nós.
       – Muito bom dia. O que é que os meus amigos vão querer? – pergunta gentilmente.
            – Estamos todos com fome. Andamos em viagem há cerca de quatro horas e ainda não tomamos o pequeno–almoço – digo eu com um sorriso para o senhor que poderia ser meu avô –. O que se pode comer aqui?
            – Ora bem… vocês são esquisitos?
            – Nada disso! – respondo.
            – Então deixam que aqui o tio Quim vos surpreenda?
            Olho para a minha esposa, ela olha para mim e respondemos ao mesmo tempo.
            – Sim!
            – Não demoro.
     Sabíamos que estávamos a arriscar mas a simpatia do senhor Joaquim inspirávamos confiança, tínhamos a certeza que dali sairia algo bom.
        Enquanto esperávamos pela nossa primeira refeição do dia, pusemo-nos a apreciar com mais atenção o espaço que nos envolvia. Tínhamos nas paredes, como decoração, muitos utensílios – agrícolas, suponho eu – que nunca na vida imaginávamos que existiam nem sabíamos para que serviam.
            Não esperamos muito até que o senhor Joaquim aparecesse com uma bandeja completamente cheia de iguarias. A quantidade era tanta que foi necessário juntar outra mesa à nossa.
 – Ora bem. Quase tudo o que aqui veem são produtos feitos aqui em casa por nós. Têm pão de centeio acabadinho de sair do forno e feito pela minha esposa; queijo de ovelha feito por nós e com leite de ovelhas do nosso rebanho; doce de figo, doce de ameixa e doce de abóbora, tudo feito pela minha esposa; leite da nossa vaquinha Jerónima…
Mal ouvimos o nome do animal, soltamos uma valente gargalhada.
– Cevada cultivada, torrada e moída por mim; para terminar, um sumo de laranja natural com fruta do meu pomar… a única coisa aqui que não é feita aqui é a manteiga. Espero que gostem e que tenham um bom proveito. – continuou o senhor Joaquim.
– Muito obrigado. – dizemos nós.
Com este leque de alimentos, poderíamos ficar com o estômago composto e com capacidade para aguentar umas quatro horas até à próxima refeição. Era tudo divinal.
Ao fundo, ouvia-se a radiofonia. Creio eu que estava a dar o noticiário. O senhor Joaquim aparece do nada e aumenta o volume do aparelho. Ouviu-se:
       «Notícia de última hora: Troika abandona de vez o nosso país. A crise foi finalmente vencida e erradicada de vez . Governo, na voz do senhor Primeiro-Ministro, prepara-se para fazer, dentro de uns instantes, um comunicado à Nação. A qualquer momento, entraremos em direto de São Bento.»
            Depois de ouvirmos a notícia ficamos todos, sem exceção, irradiantes.
           – Viva! Terei futuro no meu país e já não necessitarei de emigrar! – rejubila o meu filho mais velho.
            Mas era bom esperar para saber o que o nosso principal governante tinha para dizer ao país.
            Não foi preciso muito para que tal acontecesse. A emissão radiofónica já estava a ser transmitida da residência oficial do Primeiro-Ministro. O senhor Joaquim e a sua esposa aproximavam-se do aparelho e prestavam toda a atenção do mundo.
            «Portuguesas e portugueses. Hoje vivemos um dia histórico para todos nós. É com o maior orgulho que vos informo que a crise financeira que nos atormentou durante os últimos anos, terminou. E posso garantir que foi de vez! A partir deste exato momento, eu e os meus companheiros de governo, vamos iniciar a tarefa de vos devolver tudo aquilo que vos foi retirado. Assim, estou em condições de vos garantir que todos os ordenados, subsídios de férias e de Natal, as reformas das pessoas mais penalizadas, serão repostos. Adianto também que faremos, imediatamente, baixar os impostos tributados a todos aqueles que trabalham honestamente e que nunca faltaram ao compromisso para com o Estado. Acabam-se as taxas e sobretaxas de quem é denominado Classe Média, pois não há nenhum país que consiga a prosperidade sem ter uma Classe Média forte. Vamos também tomar medidas para que não haja a Classe Baixa e consequentemente os níveis de desenvolvimento social no nosso país seja o maior exemplo no mundo em igualdade de direitos entre todos os cidadãos. Todos terão direito a um sistema de saúde universal de forma gratuita pois o direito à saúde não pode ser um luxo só para alguns. O mesmo acontecerá com a escola. Todos terão direito a estudar e a ter livros grátis até ao fim da escolariedade obrigatória que é de 12 anos; com isto pretendemos que não haja abandono escolar e que todos possam estudar independentemente de ser rico ou pobre. Aumentaremos o ordenado mínimo de forma a que o valor atual seja multiplicado por três, originando melhores condições de vida a quem mais trabalha e menos recebe. Criaremos condições para que os cidadãos com deficiência tenham todas as condições para que possam viver de uma forma mais justa e com uma maior justiça social; acusaremos criminalmente todos os atos de descriminação para com estes dignos cidadãos e aqueles que tenham uma orientação sexual diferente do que se achou tradicional; todos são pessoas de plenos direitos. Acabaram-se as pensões de quem ocupou cargos políticos. Acabou-se a corrupção e os jogos de interesses que roubaram milhões de euros ao país. Apostaremos de novo nas atividades económicas que a União Europeia nos retirou, designadamente: a industria transformadora, a agricultura, a pesca. Não haverá mais subsídios para não se produzir. Vamos criar milhares de postos de trabalho…»
            Estava maravilhado com tudo o que ouvia. O meu coração pulava de alegria. Finalmente o meu Portugal ia ser um local digno e justo. Mas o discurso ainda não tinha terminado.
            «Estas são apenas algumas das medidas que a partir de hoje vamos por em prática. Vamos deixar rapidamente de ser um país quase do terceiro mundo para passarmos a ocupar os lugares cimeiros do desenvolvimento social. Não haverá mais portugueses de primeira e portugueses de segunda. Somos todos cidadãos do mesmo país. Aqueles que têm mais rendimentos terão de contribuir mais. Foi assim, aliás, que conseguimos reequilibrar tão rapidamente a situação económica do país. Os donos das grandes fortunas decidiram por bem ajudar o país a erguer-se, ofereceram-se para pagar a maioria da nossa divida e regularizar de vez as suas situações com o fisco e a Segurança Social. É assim que construímos um país mais justo e melhor para todos. Obrigado.».
            Todos pulamos de alegria e começamos a cantarolar. O senhor Joaquim veio a correr até mim e deu-me um abraço forte e emotivo. Finalmente íamos deixar de estar na miséria, iam desaparecer os casos de fome que até aqui assombravam o país. Acabavam-se as injustiças sociais. Não podíamos ter melhor prenda de Natal.
           O tempo voava e a vontade de ir lá para fora festejar era muita. Vou até ao balcão para pagar ao senhor Joaquim o pequeno-almoço maravilhoso que ele nos preparou.
            – Só por causa destas ótimas notícias que acabamos de receber, eu ofereço a refeição que fizeram. Quero é que haja uma condição: é que me venham visitar de quando em vez, pode ser? – propõe o senhor que também estava visivelmente muito contente.
Na minha boca era bem visível o sorriso de orelha a orelha. Aceitei a sua proposta. Muito em breve voltaria ali para visitar Joaquim novamente. Alguém me tocava com alguma firmeza no ombro. Era a minha esposa.
– Querido, querido. Acorda! Está quase na hora. Temos que ir à Missa do Galo.
Sentia-me meio perdido. Onde é que eu estava afinal? Que horas seriam mesmo? A Missa do Galo é sempre à meia-noite…
– Estavas a sonhar com o quê? É que ouvi-te a falar e rir muito…
Já mais desperto, olhei à minha volta, vi onde estava e pensei: “Afinal tudo aquilo que vivi, não passou de um mero sonho. Um Sonho de Natal…”

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os da "Aldeia" e os do "Império"


As guerrilhas entre Norte e Sul no nosso país, muito mais visíveis no mundo do futebol, fazem-me lembrar as aventuras e desventuras de Astérix e Obélix contra as forças do Império Romano de Júlio César.

Na banda desenhada, as forças de César por mais que tentem nunca conseguem levar de vencido os “pacatos” habitantes da aldeia gaulesa. Sempre que tentam uma investida, levam uma sova valente dos Gauleses.

Mesmo com derrotas atrás de derrotas, César acha-se sempre o superior e o invencível. Na verdade, não é bem assim…

Transpondo esta visão da famosa Banda Desenhada para o nosso futebol, a visão que temos é muito semelhante. De um lado temos os clubes do “Império” onde um até se autointitula como o maior do mundo e o outro que – apesar de ser pequeno – quer-se fazer de “grandalhão” perante os demais; do outro lado da barricada há o clube designado da “Aldeia” e que segundo os primeiros, não passa de um “clubezeco”.

Ora bem, a realidade mostra-nos que os “imperiais” tentam tudo por tudo para derrotar o clube da “Aldeia”, as armas usadas são várias e cada vez mais sofisticadas. Tentam tudo por tudo para rebaixar o tal “clubezeco” mas o sucesso esse é quase nulo. Mas para quê tanta importância dada ao clube da “Aldeia” senhores do “Império”? Se o clube em questão é tão insignificante, porque é que lhe dão tanto destaque?

Será que não se apercebem que quanto mais destaque derem ao clube da “Aldeia” mais forte ele se torna? Essa tal importância que vocês lhe dão tem o mesmo efeito da porção mágica do Astérix. E já sabem os efeitos que essa porção tem…

Os clubes do “Império” até se dão ao desplante de afirmarem que vêm à ”Aldeia” para a invadir (como a imagem acima mostra), a verdade é que nas suas imensas tentativas são quase sempre recambiados para a sua terra com uma abada das grandes. O pior, é que o “clubezeco” não se tem contentado só com as vitórias no seu território. Não, já vai de forma constante ao território do “inimigo” para os humilhar na sua própria casa! A vergonha dos “imperiais” chega a ser tanta que apagam a luz e ligam o sistema de rega para ninguém se aperceber de tal humilhação.

O irónico é que na Banda Desenhada, enquanto os Gauleses – Astérix e Obélix – se divertem a bater nos Romanos, aqui os “Aldeões” divertem-se a dar “cabazadas” das grandes aos “imperiais” e fazendo deles o melhor bombo de todas as festas (com ou sem luz). Há cada coincidência…

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Há touros com sorte!

Andava eu na minha visita ao mundo informativo virtual, quando me deparo com esta notícia "Final feliz para touro fugitivo de Viana" (acessível aqui).

Pensei eu que tinham encontrado o animal vivo e de boa saúde passado mais de um mês. Mas estava duplamente enganado. Primeiro, porque o referido touro já tinha sido encontrado e entregue ao seu dono passados 6/7 dias após a fuga; segundo, porque apesar dele estar vivo e de boa saúde (os 500 Kg mostram isso mesmo) o final feliz tinha a ver com uma outra situação. Situação essa que me deixou bastante pensativo.

Antes de continuar a desenvolver o meu raciocínio, quero deixar bem claro que nada tenho contra os que defendem os direitos dos animais. São pessoas com convicções fortes (tal como eu o sou) e por isso merecem todo o meu respeito. Só que no meu entender, essa defesa devia ter certos limites como é este caso que aqui falo.

Voltando ao tema deste texto.

Como podem ver na notícia, houve uma pessoa que se lembrou de usar as redes sociais virtuais e criar um movimento para angariação de fundos que permitissem pagar ao dono do touro para que este fosse mantido em liberdade. A ideia da utilização destas ferramentas para os mais diversos fins, não me espantam em nada.  Sei que já ajudaram a solucionar imensos problemas e dar novas oportunidades a muitas pessoas por este mundo fora. Sei também que são usadas pelos ativistas dos direitos dos animais para mostrarem a sua indignação perante as crueldades cometidas pelo homem para com os nossos companheiros no planeta terra; nomeadamente as touradas. Tudo isto merece o meu respeito e aceitação. Mas olhando para este caso da notícia, os meus neurónios começam a fervilhar com tantos pensamentos contrários à realidade que se vive neste momento no país.

A angariação levada a cabo pelo sujeito que teve a ideia de tudo fazer para manter o touro em liberdade, conseguiu acumular com os donativos de vários portugueses cerca de 1378 Euros. Feito isso, deslocou-se de Lisboa a Viana do Castelo para trocar o dinheiro pelo touro. Naturalmente que o dono do animal ao ver tal oferta ficou admirado (pudera!) e nem pensou duas vezes em ver-se livre do mamífero, que até já estava vendido a um talho de Ponte de Lima para depois entrar na cadeia alimentar humana. Perante a aceitação imediata (creio eu) do dono no negócio, tenho cá um pressentimento que os valores referidos superam em muito a oferta do tal talho da histórica vila minhota.

Permitam-me que vos coloque as várias questões que me surgiram a quando da leitura desta notícia e que me deixaram extremamente pensativo.

Todos sabemos que a crise tem feito com que milhares de portugueses estejam já a passar fome, principalmente as crianças. Os casos proliferam pelos vários órgãos de comunicação social. Quantas refeições dava o referido touro a gente necessitada? Bastava juntar um pouco de massa ou de arroz ou duas batatas e tínhamos refeições para uns tempos valentes. Não seria melhor pegar nesses tais 1378 Euros comprar na mesma o touro e dividi-lo por quem tem fome? E esse dinheiro para quantos quilos de massa, arroz ou batata não dava para depois dividir por quem precisa?

Há angariações de fundos que me metem muita confusão e esta é um desses exemplos. Gostava antes ver esses donativos a matar a fome às nossas crianças que estão a padecer por causa de uma crise que não têm nada a ver com ela, mas que são as primeiras a sentir na pele. Gostava de ver o sujeito que teve a ideia desse movimento e todos os que contribuirão com dinheiro, a fazerem o mesmo mas para matar a fome de muitos portugueses.

A verdade é que o touro continuará a andar em liberdade algures no distrito de Aveiro e muitos portugueses (principalmente crianças) continuarão a ter fome. Por isso digo: Há touros com sorte!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Deficiência, emprego e o "bate punho"


Um dos meus maiores desejos neste momento, é o de querer arranjar um trabalho para poder organizar a minha vida como deve ser. Ter a minha independência financeira e provar que posso ser útil para com a sociedade onde estou inserido. É este ”pequeno” grande detalhe que me está a encravar a realização de outros sonhos/projetos pessoais.

Quando falo com várias pessoas sobre esta minha (enorme) vontade de arranjar trabalho, chovem palavras de lamentações e de justificações com a atual situação económica do país e que não está fácil para ninguém. Como cidadão atento que sou, bem sei que a coisa no nosso país está extremamente complicado para toda a gente. Há muita gente que quer trabalhar e não consegue arranjar, outros têm que abandonar o seu país e a sua família para conseguir ganhar o ganha pão lá fora, outros pura e simplesmente não quererem qualquer tipo de trabalho; há ainda patrões que se aproveitam desta tão falada “crise” para justificar despedimentos e outras maroscas pouco dignas no respeito para com o ser humano. Sei disto tudo.

Há aí um sujeito que foi “promovido” pela sociedade a vedeta e pelo governo quase a herói nacional do empreendedorismo só por ter dito num programa de televisão que os jovens precisavam “bater o punho” para arranjar trabalho e não se limitar a ficar em casa à espera que caía algo do céu. Eu até concordo em parte com esta personalidade, o que não me cai bem é o facto de ele saber que há pessoas que se fartam de andar a correr mundo à procura de oportunidades e, depois, não têm quem lhes dê essa oportunidade. Não é por falta de “batimento de punho” que eles não conseguem. Além disso, há ainda aqueles que conseguem algo e sujeitam-se a ser uns verdadeiros escravos das empresas, a receberem por recibos verdes, muitas vezes nem metade do ordenado mínimo tiram e que nem para as despesas dá. É para isto que ele diz para se bater punho?

Há também outros casos, na qual eu me autoincluo, que mesmo antes da dita “crise” ter aparecido, já viviam em crise desde sempre. Apesar de terem um percurso académico assinalável (algo que o “bate punho” diz que não interessa para nada. Se assim é, então para que existem as Universidades?), não têm quaisquer hipóteses de mostrar à sociedade de que são capazes de serem produtivos e que podem contribuir ativamente para o desenvolvimento económico e social do nosso país. Quando algum ser portador de deficiência aparece nos meios de comunicação social a mostrarem os seus feitos e as suas conquistas, toda a gente fica boquiaberta com tamanha força da natureza. Mas e dar-lhes oportunidade para eles conseguirem singrar profissionalmente? Onde estão os direitos destes seres que apesar de terem algumas limitações, tenho a certeza de que desempenhavam mais e melhor as tarefas atribuídas a eles do que muitos ditos “normais”?

Podemos ser diferentes fisicamente, mas somos mais empenhados em não desistir dos nossos sonhos e objetivos. Deem oportunidade a esta gente para provarem do que é capaz. Deem-me uma oportunidade de sentir-me útil para com o meu país (apesar de ele pouco merecer), deem a oportunidade de conseguir a minha independência financeira e seguir para os meus outros sonhos/objetivos pessoais.  

Se tirarem a letra “D” à palavra ”deficiente”, ficam com o verdadeiro adjetivo de todos que são como eu. Somos Eficientes!

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A demissão do Pindérico do "Dr." Miguel Relvas

Hoje, quase dois anos depois de lá ter entrado, o até então Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, "Dr." Miguel Relvas, pediu a demissão do governo. Após o escutado com toda a atenção a sua declaração pública e ouvir dizer, como justificação da sua demissão, que já não tinha condições anímicas para continuar, fiquei com a sensação de que só abandonou o cargo porque foi literalmente obrigado a fazê-lo. 

Esta minha conclusão é simples de se justificar. Basta ouvir o que o ex-Ministro disse durante 7 minutos para se perceber isso mesmo. Parecia mesmo uma criança quando está embirrada porque se lhe tirou algo que gostava muito. 

Por um lado começou por dizer todas as grandes decisões (para ele) que ele tomou ao longo dos dois anos que esteve no poleiro. Depois, e do outro lado da moeda, aproveitou para dar bem nas orelhas a Pedro Passos Coelho. Dizendo de forma bem explicita que se este este foi eleito Presidente do PPD/PSD foi graças ao empenho e trabalho árduo que ele (Relvas) teve e que o mesmo se passou com a eleição para Primeiro-Ministro. Deu a entender que se não fosse este empenho, Passos Coelho não estaria onde está agora. 

Das duas uma: ou foi Passos Coelho que empurrou Relvas para fora porque este era um dos maiores motivos pelo descrédito que este governo caiu na opinião pública geral; ou, por outro lado, Paulo Portas pressionou forte e feio Passos Coelho a fazer cair o seu braço direito senão quem caía era o governo. Sinceramente, opto pela última hipótese. Porquê? Vejamos então: o discurso birrento de Miguel Relvas mostra muito bem o mau estar que existe por ali. Relvas sentiu-se desprotegido pelo amigo Coelho e desatou a dar nas orelhas dele publicamente, lembrando-lhe que se ele é Primeiro-Ministro de Portugal foi graças a si e como tal devia tê-lo protegido mais e conservado o seu lugar no poleiro.

Esta birrinha de Miguel Relvas só mostrou, mais uma vez que é um Pindérico do mais alto nível e o quanto lhe custa largar o poder conquistado.

Outra coisa que me fez impressão na declaração de Miguel Relvas, foi o simples facto de ele gastar o seu latim durante 7 minutos e não ter apresentado qual o motivo que o levou a demitir-se. Penso eu que todos os portugueses tinham direito a saber o que leva um ministro a renunciar ao cargo que ocupou. O motivo da "falta de força anímica" não chega. Ainda para mais quando o foco do seu discurso depois de dizer isto, foi de elogiar o trabalho feito por si e de dar recados ao Pedrito.

Especular, como muitos comentadores políticos já fizeram e vão fazer, que esta demissão está directamente relacionada com o caso da sua pseudo-licenciatura é uma falácia. Não foi o próprio Primeiro-Ministro que disse - quando a polémica estalou - que este assunto era um "não assunto"? Se é um "não assunto" não se pode usar este motivo como o que levou a esta demissão. Além disso, o relatório sobre a sua (não) licenciatura já estará nas mãos do Ministro da Educação há dois meses. Porque tanto tempo depois é que se resolve demitir?

A verdade é que o homem demitiu-se (ou foi demitido). Já devia o ter sido há mais tempo? Já! Até nem devia ter entrado no governo.