quinta-feira, 21 de outubro de 2021

“Squid Game” - O dilema da discórdia

Nos últimos tempos, temos vindo a assistir a um alarido enorme em torno daquela que já é a série da plataforma de streaming – serviço de vídeo pago – Netflix. O sucesso da série “Squid Game” tem sido de tal ordem que já bateu todos os recordes de dinheiro arrecadado. O trabalho de realização custou, segundo o seu produtor, 2.7 milhões de Dólares americanos e os ganhos já ultrapassa os 900 mil milhões de Dólares. 

No entanto, “Squid Game” também tem batido o recorde de troca de opiniões completamente opostas. Há quem seja totalmente contra a série e exija que ela seja banida da plataforma, como há quem diga que o que está em causa é um retrato abstrato de uma sociedade em apuros e que por dinheiro está disposta a tudo. Isto sem falar dos denominados “VIP’s” que pagam rios de dinheiro só para ver as desgraças dos outros. Onde é que eu já vi isto na vida real??!!!

Mas na verdade será que a série “Squid Game” é mesmo mais perigosa que deixar horas e horas uma criança a fazer o que quer e bem lhe apetece na Internet, sem qualquer controlo dos pais? Será que o que se vê em determinados canais - p.ex. a CMTV - que mostram a qualquer hora do dia cenas de violência sem restrições, é menos perigoso que esta série? Será que a constante venda de drogas mesmo à porta das escolas é menos perigosa que uma série de ficção?

Além disso, achei curioso o alerta de uma escola para as cenas de sexo que supostamente existem na referida série. Sim, porque basta ver as novelas portuguesas em horário nobre em canal aberto e que contêm cenas bem mais escaldantes que aquelas que esta série mostra. E é apenas uma cena de dois minutos onde só se vê as costas da atriz destapadas e a fazer movimentos como se estivesse a enrolar-se com o parceiro sexual. Para mim é bem mais grave o que acontece depois, com a personagem masculina a desprezar a mulher, mesmo depois de ela se ter entregado a ele, totalmente. O que mostra, uma vez mais, o significado que muitos homens dão às mulheres, ou seja, usam-nas enquanto precisam delas e depois descartam-nas como meros objetos sexuais.

Mesmo assim, gostava de colocar algumas questões a quem está contra a “Squid Game”. Por acaso lembram-se daquele desafio chamado “MOMO” que surgiu na Internet e que provocou a morte e ferimentos graves em muitas crianças e adolescentes por todo o mundo? E a treta do jogo “Pokémon Go” onde jovens e adultos se davam ao trabalho de ir para os lugares mais estranhos só para apanhar um “bichinho” virtual, pondo em risco a sua integridade física? Alguém falou disso na altura? Alguma escola se mostrou preocupada? Vimos os pais alarmados? E o que diziam os iluminados Psicólogos que agora vêm criticar uma série televisiva de ficção? E as próprias escolas? Pois, não estavam cá. Ao contrário do “MOMO” e do “Pokémon Go”, os filhos de um pai preocupado com os efeitos da série “Squid Game”, só acede à Netflix se os pais quiserem... basta fazerem logout da plataforma e não dar de maneira nenhuma as credenciais de acesso aos filhos.

A série é violenta? É, mas atualmente o que é que não é violento e não passa na Internet ou nas televisões? Lembram-se da violencia gratuita nas noites recentes em Albufeira, Lisboa e Porto? Foi tudo antes da estreia da “Squid Game”… 

Trata-se de uma série de ficção. Como qualquer outro conteúdo do género, deve ser vista como pura ficção. Por ser para maiores de 16 anos, abaixo desta faixa etária deve ser supervisionada por adultos, explicando o seu contexto sem rodeios ou então, pura e simplesmente, barrar o acesso dos menores se acharem que estes não devem ver a série em causa.

Em casa, colocamos à prova o nosso filho mais velho (13 anos). Convidamos a vir ver o primeiro episódio connosco e ele próprio teve a consciência que não queria ver porque era demasiado violento. No entanto deixou bem claro o seguinte: “mas o filme ‘Cidade de Deus’ é bem mais violento que isto.”

Terminando… lembrem-se da velha máxima, senhores (muito) preocupados. “O fruto proibido, é o mais apetecido”, por isso quanto mais falam mal da série e do seu enredo, mais curiosidade vão despertar nos mais jovens. Aqueles que dizem serem os mais frágeis. Do que vejo, a fragilidade está nos mais velhos e não nos seus filhos.