O dia seguinte ao de Natal de 2012, trouxe-nos mais um episódio lamentável para os lados de São Bento. Como tem sido comum no último ano e meio (se calhar até menos), o Primeiro-Ministro de Portugal voltou a contradizer-se.
Numa tentativa de se aproximar mais dos
portugueses, de quem se tem afastado a cada dia que passa, Pedro Passos Coelho
decidiu usar de novo o Facebook – muito em voga entre a classe política – para deixar
uma mensagem a todos. Acontece que sempre que o Primeiro-Ministro tenta ficar
bonito na fotografia, ainda fica com pior aspeto na mesma.
Toda a gente se deve lembrar que não há muito
tempo atrás, Pedro Passos Coelho afirmou de boca cheia que os portugueses
estavam habituados a viver acima das suas possibilidades e que tínhamos de
ficar mais pobres para podermos pensar num futuro melhor (já aqui há um
paradoxo). Perante estas palavras, principalmente a primeira parte, eu até
estou de acordo com o homem; isto porque muita boa gente andou a viver à rico
quando não tinha possibilidades para tal. Mas estes não são todos os
portugueses!
Esta ideia de Pedro Passos Coelho até tinha
fortes possibilidades – ao contrário de muitas outras – de ser aceite na sua
generalidade. Tirando a ideia de que para se ter uma vida melhor no futuro é
preciso empobrecer (quem é que pode ter uma vida boa se ficar pobre?), a ideia
de que se viveu além das possibilidades começava a fazer com que as pessoas se consciencializassem
de que era mesmo assim, onde o próprio Estado era um exemplo célere desse
despesismo além das posses.
Acontece que Pedro Passos Coelho, gostando muito de ser polémico, decide voltar à carga e na tal dita mensagem afirma: “Este não foi o Natal que merecíamos. Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos que se habituaram. Muitos não conseguiram ter a família toda à mesma mesa. E muitos não puderam dar aos filhos um simples presente.”.
Vamos lá esclarecer uma coisa: se o senhor
disse que estávamos a viver acima das possibilidades? Também não afirmou que se
tinha de empobrecer? Este Natal – com a sua ajuda – foi exatamente aquilo que o
senhor afirmara ser o melhor. Gente com pouco dinheiro para comer e dar de comer
aos familiares (principalmente aos filhos), gente que não tem dinheiro para dar
um mimo aos filhotes, e, gente que não foi capaz de reunir a família à mesa
impulsionando assim o verdadeiro espirito do Natal.
Corta nos subsídios de Natal e de férias,
corta nos ordenados, corta nas pensões sociais, aumenta drasticamente os
impostos sobre os rendimentos e sobre o consumo, encarecendo assim os bens transacionáveis
e afundando não só as famílias que ficam sem dinheiro para comprar mas também
as empresas e o comércio porque não têm quem compre. Agora vem dizer (com
um tom angélico e de quem é muito amigo dos portugueses) que este Natal não foi
o que merecíamos??!!
Por fim, faz um apelo a que se sinta orgulho
pelos sacrifícios feitos. Que ser humano, no seu perfeito juízo, tem orgulho em
fazer sacrifícios obrigado pelo governo e com isso estar a penar?
Deixo-lhe aqui um conselho. A partir de agora,
antes de falar ou escrever publicamente, não se atreva a abrir a boca ou a
escrever o que seja. É que como diz o povo: sempre que abre a matraca ou entra
mosca ou sai mer**.
E já agora, abstenha-se de tratar os
portugueses como “amigos”, porque 95% deles – não digo 100% pois ainda há quem
o defenda – já não o pode ver à frente.
Outra coisa, achei demasiado pindérico da sua
parte assinar a mensagem conjuntamente com o nome da sua esposa. Também não
será assim que conseguirá repor a imagem perdida perante os portugueses.
Nota: para quem quiser ler a mensagem de
Pedro Passos Coelho, tem aqui a ligação: https://www.facebook.com/pedropassoscoelho/posts/10151394557387292