quinta-feira, 11 de abril de 2019

O poder de uma pessoa

Até ao final do ano de 2018, o panorama televisivo caracterizava-se de uma forma completamente distinta daquilo que vemos atualmente. Tínhamos uma TVI que dominava as audiências praticamente durante todo o dia, via-mos uma SIC completamente à nora sem saber o que fazer para conquistar telespectadores, mas sem jeito. Da RTP não falo, porque devido ao seu estatuto de Serviço Público de Televisão não deve entrar nessas jogadas ou guerras de audiências. Deve sim, apresentar programas de qualidade e que agrade a quem não se identifique com a programação dos outros dois canais generalistas em sinal aberto.

Durante anos - desde a estreia do primeiro "Big Brother" -, a SIC teve que entrar numa luta com a TVI onde raramente venceu o seu principal opositor. Chegando ao ponto de em alguns casos, a própria RTP ter mais audiência que o canal de Pinto Balsemão. O caminho foi penoso, chegando ao cúmulo de eu ouvir várias pessoas afirmar de boca cheia que a programação da SIC não valia nada e que não gostavam de ver este canal. Confesso que tirando um ou outro programa, eu próprio sempre dispensei os canais privados a favor da RTP. E não se trata de pensar que esta sendo uma estação paga por todos nós, temos que a ver. Nada disso. É mesmo por me identificar mais com a grelha da referida estação.

Tal como no futebol, quem tem os melhores profissionais do seu lado tem maiores hipóteses de vencer. Na televisão acontece exatamente o mesmo. Pode o programa não valer um "chavo", mas se tiver uma cara que é acarinhada pelo telespectador a conduzir o mesmo, é meio caminho andado para o sucesso.

Numa tentativa de desespero, por ter tantos maus resultados na última década e meia - à qual nem as novelas da afamada Globo ajudavam a contrabalançar a "coisa" -, o grupo Impresa (detentora da SIC) decide dar um golpe na sua concorrente, e que golpe esse. Aposta todas as fichas e "rouba-lhe" a apresentadora mais mediática de toda a televisão portuguesa: Cristina Ferreira. Com esta jogada, Pinto Balsemão com a ajuda do olho cirúrgico do seu Diretor de Conteúdos, Daniel Oliveira, que outrora não passava de um "moço de recados" e que foi subindo, subindo, subindo até se tornar o homem mais poderoso da SIC, mas com esta jogada Balsemão e Oliveira deram uma estocada forte na TVI cujo as feridas deixadas em aberto, poderão demorar anos a fio a recuperar.

A verdade é que com este - literalmente - Xeque-Mate à TVI, colocando a Cristina do seu horário normal, a que se juntou o acréscimo de alguns programas de cusquice da vida alheia (que o povinho "tuga" tanto adora ver), a SIC conseguiu com que os telespectadores fugissem à debandada do canal de Queluz de Baixo.

O efeito Cristina Ferreira, ao que parece, é bem mais poderoso que o efeito AXE (faça-se publicidade ao desodorizante), Tem o poder de atrair resmas ou paletes de telespectadores e não é só para o programa da dita senhora. Toda a programação da SIC ficou a ganhar, mesmo aqueles programinhas de caquinha, que não têm conteúdo nenhum (por ex: "Quem Quer Namorar com o Agricultor", "O Carro do Amor" ou o pioneiro "Casados à Primeira Vista").

A TVI tenta a todo o custo remar contra a maré, apostando igualmente em novos programas de caquinha que nem ao final da série chegam ("Quem Quer Casar Com o meu Filho" é o exemplo) ou outros que vão se estreando em catapulta ("First Dates - O Primeiro Encontro", "Começar do Zero"), mas sem sucesso.

Suspeita-se que a TVI venha a ter a sua travessia no deserto nos próximos tempos. Uma receita que ela própria impôs à sua concorrente. E isto não vai lá com novas séries de programas como "Secret Story - A Casa dos Segredos" ou "Love on Top". Posso ir mais longe, nem um regresso do "Big Brother" servirá de tábua de salvação num barco que já está à deriva em alto mar. Voltar a esta velha receita, seria como um disco riscado que está sempre a tocar o mesmo. 

Para terminar, uma nota sobre aquelas pessoas que outrora detestavam a SIC e agora têm o seu televisor sintonizado neste canal. É caso para não dizerem que "desta água nunca beberei". Bastou que a toda poderosa Cristina Ferreira mudasse de malas e bagagens para outra "casa". O que devo dizer sobre isto? Nada mais que é uma situação um quanto ou tanto caricata.

Assim se vê o poder que uma única pessoa tem sobre uma multidão.


Fotografia retirada da Página Oficial 
da Cristina Ferreira no Facebook.