sábado, 29 de setembro de 2012

Os insultos de quem nos governa.

Desde que me lembro da minha existência, nunca vi um governo a ser tão insultuoso para com a população do seu país como este último de Pedro Passos Coelho.

Logo nos inícios do seu mandato e quando começou com a já famosa austeridade (custe o que custar) além do estabelecido no memorando da "Troika", que membros do governo têm mostrado um desrespeito sem procedentes com o povo português, muitos destes que elegeram Pedro Passos Coelho para Primeiro-Ministro e como uma esperança renovada depois de um governo de José Sócrates que deixou muito a desejar.

Começou logo com o apelo aos jovens para emigrarem para outros países. Perante tal apelo, o governo deu sinal que não seria capaz de dar conta do recado e tirar o país da situação caótica em que estava metido. Aqui, deu-se logo uma machadada na esperança de um povo que desejava sair do buraco em que o tinham metido. Acho que para um responsável politico a quem lhe foi confiada a missão de governar Portugal, não fica nada bem proferir uma coisa destas. Sabe-se muito bem que quem vai para fora dificilmente regressará ao país de origem pois lá fora ganha-se mais, tem-se melhores condições de vida, ou seja, andamos a investir na formação académica dos nossos jovens e depois mandamo-los para que outros países rentabilizem e tirem proveito (financeiramente) dessas qualificações? Será que o governo pensa que os portugueses vão trabalhar para fora e depois mandam as poupanças para cá? Está tão iludido… Finalmente, o que Portugal precisa é que se criem condições para que os seus cidadãos criem riqueza para erguermos o país de modo a tirá-lo do fosso em que está metido.

Depois deste triste episódio que foi o mandar o povo para fora e quando as medidas austeras começavam a fazer mossa no “coiro” dos portugueses, eis que surge mais um episódio de deitar as mãos à cabeça: Vem o Primeiro-Ministro, chamar piegas aos portugueses. Ora bem, que o povo luso gostou sempre de andar a chorar pelos cantos (muitas vezes sem razão) é verdade mas sempre ouvi dizer que quem não se sente não é filho de boa gente; como tal é natural que um povo ao sentir-se oprimido, muitos com dificuldades enormes para sustentar as suas famílias, é legitimo que se queixe. Que moral tem um Primeiro-Ministro, responsável por essa “coça” que o povo tem levado, de chamar piegas a quem dá o seu corpo ao manifesto para sustentar com os seus impostos as mordomias do Estado? A maioria das pessoas não é masoquista, quando leva no corpo e dói, só tem de protestar.

Quando parecia que os insultos directos tinham terminado, eis que surgem mais dois da boca de responsáveis governativos. Um nem tanto, mas já lá vamos.

Num momento onde a contestação ao caminho escolhido para governar o país, é cada vez mais ruidoso; vem um Ministro a público falar da lenda da Cigarra e da Formiga para de uma forma pindérica, dizer que o povo português é preguiçoso chamando-lhes Cigarras. O senhor Ministro esquece-se é que é graças a elas que recebe um ordenado chorudo ao fim de todos os meses; ordenado esse que muitas dessas Cigarras não se importavam de ter mesmo a trabalhar como Formigas…

O último episódio desta saga (até ver), veio da voz de um dos mais influentes Conselheiros do governo. Este senhor de nome A. Borges, supostamente um conceituado economista que foi convidado a abandonar o cargo que ocupava no FMI, vem chamar ignorantes aos empresários que criticaram a medida – inteligente, segundo ele – de mexer na TSU. Ora bem, ignorante parece ser esse tal A. Borges porque não teve a capacidade intelectual para ver que o que era contestado era a subida da referida TSU para os trabalhadores e não a descida para as empresas… é perfeitamente natural que os empresários ao verem que as pessoas iam ficar com um poder de compra bem mais reduzido que eles iriam vender/produzir menos devido à fraca procura. Não é preciso ser-se muito inteligente para se perceber que o efeito pretendido – estimular a competitividade e dando origem a mais emprego – ia ser o contrário e consequentemente o Estado iria lucrar bem menos com a retenção de impostos como o IVA ou IRC. Se a procura for menor, os proveitos para as empresas também seria menor assim como as receitas para o Estado. Será preciso ter formação académica na área da Economia para se perceber qual seria o resultado?

Como não bastasse, além de chamar ignorantes, disse que a maioria dos empresários não passava do primeiro ano na faculdade do A. Borges. A resposta por parte do representante dos empresários não se fez tardar e foi bem à medida do senhor: segundo os empresários, A. Borges também não teria qualquer hipótese de entrar nos quadros da maioria das empresas. Porque será?

Era bom que o governo e os seus conselheiros se lembrassem que ao proferirem tais palavras, estão a insultar quem lhes concedeu o mandato para levarem o país a bom porto. Afinal quem é que gosta de ser tratado por piegas, preguiçoso ou ignorante?

As pessoas precisam de ser mimadas e não insultadas.