quinta-feira, 21 de outubro de 2021

“Squid Game” - O dilema da discórdia

Nos últimos tempos, temos vindo a assistir a um alarido enorme em torno daquela que já é a série da plataforma de streaming – serviço de vídeo pago – Netflix. O sucesso da série “Squid Game” tem sido de tal ordem que já bateu todos os recordes de dinheiro arrecadado. O trabalho de realização custou, segundo o seu produtor, 2.7 milhões de Dólares americanos e os ganhos já ultrapassa os 900 mil milhões de Dólares. 

No entanto, “Squid Game” também tem batido o recorde de troca de opiniões completamente opostas. Há quem seja totalmente contra a série e exija que ela seja banida da plataforma, como há quem diga que o que está em causa é um retrato abstrato de uma sociedade em apuros e que por dinheiro está disposta a tudo. Isto sem falar dos denominados “VIP’s” que pagam rios de dinheiro só para ver as desgraças dos outros. Onde é que eu já vi isto na vida real??!!!

Mas na verdade será que a série “Squid Game” é mesmo mais perigosa que deixar horas e horas uma criança a fazer o que quer e bem lhe apetece na Internet, sem qualquer controlo dos pais? Será que o que se vê em determinados canais - p.ex. a CMTV - que mostram a qualquer hora do dia cenas de violência sem restrições, é menos perigoso que esta série? Será que a constante venda de drogas mesmo à porta das escolas é menos perigosa que uma série de ficção?

Além disso, achei curioso o alerta de uma escola para as cenas de sexo que supostamente existem na referida série. Sim, porque basta ver as novelas portuguesas em horário nobre em canal aberto e que contêm cenas bem mais escaldantes que aquelas que esta série mostra. E é apenas uma cena de dois minutos onde só se vê as costas da atriz destapadas e a fazer movimentos como se estivesse a enrolar-se com o parceiro sexual. Para mim é bem mais grave o que acontece depois, com a personagem masculina a desprezar a mulher, mesmo depois de ela se ter entregado a ele, totalmente. O que mostra, uma vez mais, o significado que muitos homens dão às mulheres, ou seja, usam-nas enquanto precisam delas e depois descartam-nas como meros objetos sexuais.

Mesmo assim, gostava de colocar algumas questões a quem está contra a “Squid Game”. Por acaso lembram-se daquele desafio chamado “MOMO” que surgiu na Internet e que provocou a morte e ferimentos graves em muitas crianças e adolescentes por todo o mundo? E a treta do jogo “Pokémon Go” onde jovens e adultos se davam ao trabalho de ir para os lugares mais estranhos só para apanhar um “bichinho” virtual, pondo em risco a sua integridade física? Alguém falou disso na altura? Alguma escola se mostrou preocupada? Vimos os pais alarmados? E o que diziam os iluminados Psicólogos que agora vêm criticar uma série televisiva de ficção? E as próprias escolas? Pois, não estavam cá. Ao contrário do “MOMO” e do “Pokémon Go”, os filhos de um pai preocupado com os efeitos da série “Squid Game”, só acede à Netflix se os pais quiserem... basta fazerem logout da plataforma e não dar de maneira nenhuma as credenciais de acesso aos filhos.

A série é violenta? É, mas atualmente o que é que não é violento e não passa na Internet ou nas televisões? Lembram-se da violencia gratuita nas noites recentes em Albufeira, Lisboa e Porto? Foi tudo antes da estreia da “Squid Game”… 

Trata-se de uma série de ficção. Como qualquer outro conteúdo do género, deve ser vista como pura ficção. Por ser para maiores de 16 anos, abaixo desta faixa etária deve ser supervisionada por adultos, explicando o seu contexto sem rodeios ou então, pura e simplesmente, barrar o acesso dos menores se acharem que estes não devem ver a série em causa.

Em casa, colocamos à prova o nosso filho mais velho (13 anos). Convidamos a vir ver o primeiro episódio connosco e ele próprio teve a consciência que não queria ver porque era demasiado violento. No entanto deixou bem claro o seguinte: “mas o filme ‘Cidade de Deus’ é bem mais violento que isto.”

Terminando… lembrem-se da velha máxima, senhores (muito) preocupados. “O fruto proibido, é o mais apetecido”, por isso quanto mais falam mal da série e do seu enredo, mais curiosidade vão despertar nos mais jovens. Aqueles que dizem serem os mais frágeis. Do que vejo, a fragilidade está nos mais velhos e não nos seus filhos.



quinta-feira, 11 de abril de 2019

O poder de uma pessoa

Até ao final do ano de 2018, o panorama televisivo caracterizava-se de uma forma completamente distinta daquilo que vemos atualmente. Tínhamos uma TVI que dominava as audiências praticamente durante todo o dia, via-mos uma SIC completamente à nora sem saber o que fazer para conquistar telespectadores, mas sem jeito. Da RTP não falo, porque devido ao seu estatuto de Serviço Público de Televisão não deve entrar nessas jogadas ou guerras de audiências. Deve sim, apresentar programas de qualidade e que agrade a quem não se identifique com a programação dos outros dois canais generalistas em sinal aberto.

Durante anos - desde a estreia do primeiro "Big Brother" -, a SIC teve que entrar numa luta com a TVI onde raramente venceu o seu principal opositor. Chegando ao ponto de em alguns casos, a própria RTP ter mais audiência que o canal de Pinto Balsemão. O caminho foi penoso, chegando ao cúmulo de eu ouvir várias pessoas afirmar de boca cheia que a programação da SIC não valia nada e que não gostavam de ver este canal. Confesso que tirando um ou outro programa, eu próprio sempre dispensei os canais privados a favor da RTP. E não se trata de pensar que esta sendo uma estação paga por todos nós, temos que a ver. Nada disso. É mesmo por me identificar mais com a grelha da referida estação.

Tal como no futebol, quem tem os melhores profissionais do seu lado tem maiores hipóteses de vencer. Na televisão acontece exatamente o mesmo. Pode o programa não valer um "chavo", mas se tiver uma cara que é acarinhada pelo telespectador a conduzir o mesmo, é meio caminho andado para o sucesso.

Numa tentativa de desespero, por ter tantos maus resultados na última década e meia - à qual nem as novelas da afamada Globo ajudavam a contrabalançar a "coisa" -, o grupo Impresa (detentora da SIC) decide dar um golpe na sua concorrente, e que golpe esse. Aposta todas as fichas e "rouba-lhe" a apresentadora mais mediática de toda a televisão portuguesa: Cristina Ferreira. Com esta jogada, Pinto Balsemão com a ajuda do olho cirúrgico do seu Diretor de Conteúdos, Daniel Oliveira, que outrora não passava de um "moço de recados" e que foi subindo, subindo, subindo até se tornar o homem mais poderoso da SIC, mas com esta jogada Balsemão e Oliveira deram uma estocada forte na TVI cujo as feridas deixadas em aberto, poderão demorar anos a fio a recuperar.

A verdade é que com este - literalmente - Xeque-Mate à TVI, colocando a Cristina do seu horário normal, a que se juntou o acréscimo de alguns programas de cusquice da vida alheia (que o povinho "tuga" tanto adora ver), a SIC conseguiu com que os telespectadores fugissem à debandada do canal de Queluz de Baixo.

O efeito Cristina Ferreira, ao que parece, é bem mais poderoso que o efeito AXE (faça-se publicidade ao desodorizante), Tem o poder de atrair resmas ou paletes de telespectadores e não é só para o programa da dita senhora. Toda a programação da SIC ficou a ganhar, mesmo aqueles programinhas de caquinha, que não têm conteúdo nenhum (por ex: "Quem Quer Namorar com o Agricultor", "O Carro do Amor" ou o pioneiro "Casados à Primeira Vista").

A TVI tenta a todo o custo remar contra a maré, apostando igualmente em novos programas de caquinha que nem ao final da série chegam ("Quem Quer Casar Com o meu Filho" é o exemplo) ou outros que vão se estreando em catapulta ("First Dates - O Primeiro Encontro", "Começar do Zero"), mas sem sucesso.

Suspeita-se que a TVI venha a ter a sua travessia no deserto nos próximos tempos. Uma receita que ela própria impôs à sua concorrente. E isto não vai lá com novas séries de programas como "Secret Story - A Casa dos Segredos" ou "Love on Top". Posso ir mais longe, nem um regresso do "Big Brother" servirá de tábua de salvação num barco que já está à deriva em alto mar. Voltar a esta velha receita, seria como um disco riscado que está sempre a tocar o mesmo. 

Para terminar, uma nota sobre aquelas pessoas que outrora detestavam a SIC e agora têm o seu televisor sintonizado neste canal. É caso para não dizerem que "desta água nunca beberei". Bastou que a toda poderosa Cristina Ferreira mudasse de malas e bagagens para outra "casa". O que devo dizer sobre isto? Nada mais que é uma situação um quanto ou tanto caricata.

Assim se vê o poder que uma única pessoa tem sobre uma multidão.


Fotografia retirada da Página Oficial 
da Cristina Ferreira no Facebook.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Pura perplexidade

Sei que o campeonato de futebol 2017/2018 ainda está em alvoroço por o FC do Porto o ter vencido. Os ressabiados ainda estão com uma azia tremenda e têm tido atitudes um quanto ao tanto despropositadas e até mesmo inadequadas para a grandeza que um clube como o S. L, Benfica tem.

Ontem – 9 de maio de 2018 – vi algumas atitudes de adeptos do glorioso que me deixaram completamente perplexo. 

Foi notícia que um grupo de adeptos do FC do Porto (inclusive da claque Super Dragões) decidiram fazer uma peregrinação ao Santuário de Fátima para agradecer à Nossa Senhora a conquista do campeonato. Apesar de eu ter a certeza que tudo o que é Divino (Deus, Jesus, Nossa Senhora e Santos) não se meterem em coisas de "futebóis", não vejo qual o mal desses adeptos irem a Fátima agradecer a conquista por parte do clube. Outros adeptos de outros clubes também o fazem e até levam a imagem da Virgem para o estádio…

O que me deixa perplexo é ver a reação de alguns adeptos benfiquistas. Não é a questão da critica feita à ação dos dragões, mas sim a forma como a critica foi feita. Ler “…eu sabia que tinha dedo de mulher”, é de se ficar perplexo ou até mais qualquer coisa. Primeiro, não é aceitável esta falta de respeito para com uma das figuras mais importantes do cristianismo; trata-se de uma ofensa para a Nossa Senhora mas também para quem é crente na religião – sejam portistas, benfiquistas, sportinguistas ou de nenhum clube. Segundo, é uma ofensa para com a mulher em si. Tal comentário, mostra um pouco de xenofobia em relação às mulheres. Dizer o que se disse, mostra que a pessoa em causa acha que tudo o que a mulher faz, faz mal. 

O segundo caso tem a ver com a brincadeira que alguns jogadores do FC Porto tiveram com um polvo de plástico nos festejos da conquista do campeonato, onde bateram e pontapearam o dito animal. Depois de tanta polémica com emails, toupeiras e polvos que envolvem o S, L. Benfica, sem que houvesse um desmentido claro por parte dos dirigentes durante este tempo todo. Ver, o diretor de comunicação do S. L. Benfica ficar de tal maneira ofendido com as brincadeiras com o polvo de borracha e afirmar na BTV que tais gestos eram grosseiros, reprováveis e que por isso tudo, aqueles jogadores e o clube que representam, não mereciam os parabéns da parte do clube da Luz ao FC do Porto pela conquista do campeonato.

Só posso tirar uma conclusão desta reação: se, se sentiram tão ofendidos com a “pancadaria” dada ao polvo no Dragão, então é porque de facto o polvo encarnado é bem real. Senão, não ficavam tão ofendidos.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Azul e Branco

No passado domingo, 29 de abril, fui mais a minha esposa visitar o Museu do FC Porto e aos pontos mais importantes do Estádio do Dragão. Confesso que foi uma tarde muito bem passada e que me fez perceber ainda mais, como é tão grande e rica a história do meu clube.

Durante as duas visitas, vaguearam pela minha cabeça vários pensamentos. Pensamentos esses que disse a mim mesmo que iria partilhá-los num texto. E cá está ele.

Os principais adversários (não gosto da palavra rivais) do meu clube, usam muitas vezes argumentos sem nexo para atacar o poderio que o FC Porto tem. Não vou falar em “apitos dourados” porque senão teria de falar em “caso Calabote”, no “lápis azul” do tempo do regime fascista, nos “e-mails”, nos “voucher’s” ou em “Toupeiras” que é um animal que eu não simpatizo nada, pois dá cabo das raízes das árvores que são tão importantes para a nossa saúde e tão belas. Está claro de se ver, que se fosse a escrever sobre isto tudo teria um longo e extenso texto que quase dava uma Tese de Doutoramento.

Limitar-me-ei a escrever sobre alguns ataques mais simples mas que caiem no ridículo pela sua argumentação. Os adversários do meu clube dizem muito que temos como símbolo um animal que só existe no nosso imaginário, ao contrário do Leão e da Águia que eu não digo que são dois animais imponentes, um no reino dos mamíferos e o outro no reino das aves. Mas não nos podemos esquecer o Dragão de Komodo. De imaginário nada tem, é bem vivo e é, somente, considerado como o maior lagarto conhecido, chegando a atingir 40 cm de altura e 2 a 3 m de comprimento e pode atingir os 166 quilos de peso. Posso afirmar que com estas características é sem dúvida alguma o rei dos lagartos. Além disso, não lança fogo pela boca. Factos são factos.

Mas se quisermos falar do tal animal imaginário, aquele que cospe fogo pela boca, eis que surge um dos contrassensos mais aberrantes que eu já vi. Se é o Dragão o rei do fogo, porque carga de água o “Ninho da Águia” é considerado como o “Inferno da Luz” onde pairam muitos “Diabos vermelhos”? É do senso comum que é no inferno que existe fogo, fogo esse que serve para queimar as almas impuras. Será que é isso que acontece para os lados da 2.ª Circular?

Voltando ao Dragão de Komodo, aqui vou também atacar os adeptos do meu clube. Sabemos que um dos clubes adversários – devido à cor do seu equipamento – são conhecidos como os “Lagartos”, mas como já vimos lagarto é o Dragão e não o Leão.

Falando das cores do equipamento, tenho um gosto enorme pelo azul e branco. Além de ser a cor da Bandeira Nacional da era da Monarquia (que eu simpatizo), é a cor do céu encantador. É certo que às vezes esse mesmo céu torna-se vermelho, mas quando assim é, é muito mau sinal. Vem uma tempestade de trovoada tremenda. Agora, céu verde e branco… não há!

Além das várias diferenças existentes entre adversário, temos algo em comum (não falando da grandeza de cada um dos clubes e da história rica que têm). Há a Constelação do Dragão, mas também há a Constelação de Leão e a da Águia.

Uns gabam-se de serem o maior clube nacional em termos de adeptos e com mais Campeonatos Nacionais, mais Taças de Portugal e mais Taças da Liga, a verdade é que nunca conseguiram um Pentacampeonato (nem no tempo da Ditadura); outros gabam-se por serem a instituição com mais títulos conquistados se englobarmos todas as modalidades desportivas. Este argumento é tão infeliz pois se o destaque maior vai para o futebol, ter de recorrer às outras modalidades desportivas do clube para tentar afirmá-lo como um grande clube, é triste. Verdade que os clubes têm outras modalidades, mas estas são quase sempre desprezadas em prol do futebol. Ninguém o pode negar.

Em termos de “gabanços”, posso dizer que o FC Porto é o clube português com mais troféus internacionais conquistados (isto sim é prestígio para o futebol nacional); é o clube que teve nas suas fileiras o atleta com mais troféus coletivos conquistados – Vítor Baía – e é o clube que tem o Presidente com mais troféus conquistados, em todo o mundo. É sem dúvida um motivo de orgulho grandioso. Para não falar no melhor Museu do mundo para se visitar.

De salientar que o FC Porto, no tempo do Estado Novo, foi uma das poucas instituições a nível nacional que resistiu à prepotência de um governo ditatorial que obrigava que todos os símbolos ligados à história monárquica portuguesa, fossem abolidas e erradicadas. É o caso da cor do clube e usada nos seus equipamentos, ou a coroa presente no emblema. Aqui também se fez notar a força que o Dragão tem. 

Ao ver a história exposta no Museu do FC Porto e a grandiosidade que este e o Estádio transmite a quem os visitam, tenho a certeza que o futuro está garantido, será extremamente risonho e só terá uma cor: “Azul e Branco”. É esta a cor do meu coração. 

Termino relembrando que Penta só há um, o do Dragão e mais nenhum.

Viva o FC Porto, viva ao Azul e Branco!

O único Penta em Portugal

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Referendo sobre a coadoção de crianças entre casais do mesmo sexo: A hipocrisia política

No passado dia 17 de janeiro de 2014 foi aprovado no Parlamento, pelo PPD/PSD, a realização de um referendo sobre a coadoção de crianças por casais do mesmo sexo. Não é por causa desta temática que eu quero deixar aqui esta nota, até porque do que tenho visto e ouvido a minha opinião difere de muita gente. O que eu quero chamar à atenção é mesmo a realização do referendo e a hipocrisia que esta decisão se traduz.

Todos nós sabemos que esta questão da coadoção nos dias que correm é algo secundário nas prioridades do país e dos portugueses. Sabemos também que em questões bem mais fulcrais para o dia a dia de todos nós não se propõem referendos para saber qual a opinião de cada português. Decidem tudo nos gabinetes da Assembleia e o povo que se lixe. Quando a matéria diz respeito à intimidade de uma pequena minoria de portugueses, aí já passam a batata quente para o povo todo; quando na boa verdade podiam aprovar o que fosse no Parlamento.

Volto a referir que não é a coadoção de crianças que me incomoda. Incomoda-me sim ouvir os partidos que constituem o governo – em especial o PPD/PSD – a afirmarem que não há dinheiro para a saúde, para o ensino, para as pensões, para melhorar as condições degradantes que muitos dos portugueses estão a viver, e, de repente há dinheiro para se gastar em referendos a temas que nada interferem com a vida da esmagadora maioria dos cidadãos nacionais. Sabe-se que o último referendo que foi feito em Portugal custou nada mais, nada menos que dez milhões de euros aos cofres do Estado. Sabe-se de antemão que o que aí vem, se 35% dos portugueses forem votar será extraordinário. O resultado, esse, posso estar muito enganado mas sabendo o quanto o português é conservador, já se sabe bem qual vai ser. Pergunto: não era muito melhor pegar nos milhões que se vai gastar neste referendo hipócrita e aplicá-lo no que realmente faz falta ao país e aos portugueses?

domingo, 1 de dezembro de 2013

Um Sonho de Natal

25 de dezembro. Este ano tive a vontade de dar à minha família e a mim mesmo um Natal diferente de todos os outros. Em vez de ficarmos em casa a empanturrar-nos de comida e guloseimas, optei por pegar no carro e ir com os meus amores, por este nosso belo país, sem destino traçado.
            Saímos cedo para aproveitarmos ao máximo o dia. À nossa volta só se via um manto branco provocado por um valente nevão que caíra dois dias antes. Esta imagem fez sempre parte do meu imaginário desde criança. Como vivo na grande cidade, nunca imaginei ter o privilégio de ter um Natal pintado de branco. Que belo presente este.
            O ambiente no carro é excelente. A alegria, o amor e a paz transbordam em todos nós. Os meus filhos estão super felizes por terem um dia assim; a minha esposa, essa, tem um brilho nos olhos como eu nunca tinha visto em muitos anos de casamento. O autorrádio, esse, ajuda a essa harmonia tocando só músicas alusivas à quadra que estamos a viver.
            As horas iam passando e a fome apertava. Decidi parar no próximo café que encontrasse aberto para tomarmos um pequeno-almoço bem reforçado, pois o dia prometia.
            Paramos numa aldeia típica. Onde as casas eram todas feitas em pedra de xisto. A poucos metros de distância, por cima de uma porta, vimos um letreiro “Taberna do tio Joaquim”. Olhamos uns para os outros e arriscamos entrar. Que belo sitia aquele que acabávamos de descobrir. Ali respirava-se ao Portugal genuíno, onde a ruralidade faz parte do código genético do país.
Ao fundo, por trás do balcão, tínhamos um senhor cuja idade deveria rondar os 70 e muitos anos.
            – Entrem, entrem! Fiquem à vontade. A minha casa é a vossa casa. – diz o senhor com a maior das simpatias.
            Suspeitávamos que ali não se ia comer um pequeno-almoço à qual estávamos habituados no nosso dia-a-dia na cidade. Sentamo-nos numas das mesas de madeira que existia naquele espaço, não deviam ser mais que cinco mesas.
            O senhor aproximava-se de nós.
       – Muito bom dia. O que é que os meus amigos vão querer? – pergunta gentilmente.
            – Estamos todos com fome. Andamos em viagem há cerca de quatro horas e ainda não tomamos o pequeno–almoço – digo eu com um sorriso para o senhor que poderia ser meu avô –. O que se pode comer aqui?
            – Ora bem… vocês são esquisitos?
            – Nada disso! – respondo.
            – Então deixam que aqui o tio Quim vos surpreenda?
            Olho para a minha esposa, ela olha para mim e respondemos ao mesmo tempo.
            – Sim!
            – Não demoro.
     Sabíamos que estávamos a arriscar mas a simpatia do senhor Joaquim inspirávamos confiança, tínhamos a certeza que dali sairia algo bom.
        Enquanto esperávamos pela nossa primeira refeição do dia, pusemo-nos a apreciar com mais atenção o espaço que nos envolvia. Tínhamos nas paredes, como decoração, muitos utensílios – agrícolas, suponho eu – que nunca na vida imaginávamos que existiam nem sabíamos para que serviam.
            Não esperamos muito até que o senhor Joaquim aparecesse com uma bandeja completamente cheia de iguarias. A quantidade era tanta que foi necessário juntar outra mesa à nossa.
 – Ora bem. Quase tudo o que aqui veem são produtos feitos aqui em casa por nós. Têm pão de centeio acabadinho de sair do forno e feito pela minha esposa; queijo de ovelha feito por nós e com leite de ovelhas do nosso rebanho; doce de figo, doce de ameixa e doce de abóbora, tudo feito pela minha esposa; leite da nossa vaquinha Jerónima…
Mal ouvimos o nome do animal, soltamos uma valente gargalhada.
– Cevada cultivada, torrada e moída por mim; para terminar, um sumo de laranja natural com fruta do meu pomar… a única coisa aqui que não é feita aqui é a manteiga. Espero que gostem e que tenham um bom proveito. – continuou o senhor Joaquim.
– Muito obrigado. – dizemos nós.
Com este leque de alimentos, poderíamos ficar com o estômago composto e com capacidade para aguentar umas quatro horas até à próxima refeição. Era tudo divinal.
Ao fundo, ouvia-se a radiofonia. Creio eu que estava a dar o noticiário. O senhor Joaquim aparece do nada e aumenta o volume do aparelho. Ouviu-se:
       «Notícia de última hora: Troika abandona de vez o nosso país. A crise foi finalmente vencida e erradicada de vez . Governo, na voz do senhor Primeiro-Ministro, prepara-se para fazer, dentro de uns instantes, um comunicado à Nação. A qualquer momento, entraremos em direto de São Bento.»
            Depois de ouvirmos a notícia ficamos todos, sem exceção, irradiantes.
           – Viva! Terei futuro no meu país e já não necessitarei de emigrar! – rejubila o meu filho mais velho.
            Mas era bom esperar para saber o que o nosso principal governante tinha para dizer ao país.
            Não foi preciso muito para que tal acontecesse. A emissão radiofónica já estava a ser transmitida da residência oficial do Primeiro-Ministro. O senhor Joaquim e a sua esposa aproximavam-se do aparelho e prestavam toda a atenção do mundo.
            «Portuguesas e portugueses. Hoje vivemos um dia histórico para todos nós. É com o maior orgulho que vos informo que a crise financeira que nos atormentou durante os últimos anos, terminou. E posso garantir que foi de vez! A partir deste exato momento, eu e os meus companheiros de governo, vamos iniciar a tarefa de vos devolver tudo aquilo que vos foi retirado. Assim, estou em condições de vos garantir que todos os ordenados, subsídios de férias e de Natal, as reformas das pessoas mais penalizadas, serão repostos. Adianto também que faremos, imediatamente, baixar os impostos tributados a todos aqueles que trabalham honestamente e que nunca faltaram ao compromisso para com o Estado. Acabam-se as taxas e sobretaxas de quem é denominado Classe Média, pois não há nenhum país que consiga a prosperidade sem ter uma Classe Média forte. Vamos também tomar medidas para que não haja a Classe Baixa e consequentemente os níveis de desenvolvimento social no nosso país seja o maior exemplo no mundo em igualdade de direitos entre todos os cidadãos. Todos terão direito a um sistema de saúde universal de forma gratuita pois o direito à saúde não pode ser um luxo só para alguns. O mesmo acontecerá com a escola. Todos terão direito a estudar e a ter livros grátis até ao fim da escolariedade obrigatória que é de 12 anos; com isto pretendemos que não haja abandono escolar e que todos possam estudar independentemente de ser rico ou pobre. Aumentaremos o ordenado mínimo de forma a que o valor atual seja multiplicado por três, originando melhores condições de vida a quem mais trabalha e menos recebe. Criaremos condições para que os cidadãos com deficiência tenham todas as condições para que possam viver de uma forma mais justa e com uma maior justiça social; acusaremos criminalmente todos os atos de descriminação para com estes dignos cidadãos e aqueles que tenham uma orientação sexual diferente do que se achou tradicional; todos são pessoas de plenos direitos. Acabaram-se as pensões de quem ocupou cargos políticos. Acabou-se a corrupção e os jogos de interesses que roubaram milhões de euros ao país. Apostaremos de novo nas atividades económicas que a União Europeia nos retirou, designadamente: a industria transformadora, a agricultura, a pesca. Não haverá mais subsídios para não se produzir. Vamos criar milhares de postos de trabalho…»
            Estava maravilhado com tudo o que ouvia. O meu coração pulava de alegria. Finalmente o meu Portugal ia ser um local digno e justo. Mas o discurso ainda não tinha terminado.
            «Estas são apenas algumas das medidas que a partir de hoje vamos por em prática. Vamos deixar rapidamente de ser um país quase do terceiro mundo para passarmos a ocupar os lugares cimeiros do desenvolvimento social. Não haverá mais portugueses de primeira e portugueses de segunda. Somos todos cidadãos do mesmo país. Aqueles que têm mais rendimentos terão de contribuir mais. Foi assim, aliás, que conseguimos reequilibrar tão rapidamente a situação económica do país. Os donos das grandes fortunas decidiram por bem ajudar o país a erguer-se, ofereceram-se para pagar a maioria da nossa divida e regularizar de vez as suas situações com o fisco e a Segurança Social. É assim que construímos um país mais justo e melhor para todos. Obrigado.».
            Todos pulamos de alegria e começamos a cantarolar. O senhor Joaquim veio a correr até mim e deu-me um abraço forte e emotivo. Finalmente íamos deixar de estar na miséria, iam desaparecer os casos de fome que até aqui assombravam o país. Acabavam-se as injustiças sociais. Não podíamos ter melhor prenda de Natal.
           O tempo voava e a vontade de ir lá para fora festejar era muita. Vou até ao balcão para pagar ao senhor Joaquim o pequeno-almoço maravilhoso que ele nos preparou.
            – Só por causa destas ótimas notícias que acabamos de receber, eu ofereço a refeição que fizeram. Quero é que haja uma condição: é que me venham visitar de quando em vez, pode ser? – propõe o senhor que também estava visivelmente muito contente.
Na minha boca era bem visível o sorriso de orelha a orelha. Aceitei a sua proposta. Muito em breve voltaria ali para visitar Joaquim novamente. Alguém me tocava com alguma firmeza no ombro. Era a minha esposa.
– Querido, querido. Acorda! Está quase na hora. Temos que ir à Missa do Galo.
Sentia-me meio perdido. Onde é que eu estava afinal? Que horas seriam mesmo? A Missa do Galo é sempre à meia-noite…
– Estavas a sonhar com o quê? É que ouvi-te a falar e rir muito…
Já mais desperto, olhei à minha volta, vi onde estava e pensei: “Afinal tudo aquilo que vivi, não passou de um mero sonho. Um Sonho de Natal…”

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os da "Aldeia" e os do "Império"


As guerrilhas entre Norte e Sul no nosso país, muito mais visíveis no mundo do futebol, fazem-me lembrar as aventuras e desventuras de Astérix e Obélix contra as forças do Império Romano de Júlio César.

Na banda desenhada, as forças de César por mais que tentem nunca conseguem levar de vencido os “pacatos” habitantes da aldeia gaulesa. Sempre que tentam uma investida, levam uma sova valente dos Gauleses.

Mesmo com derrotas atrás de derrotas, César acha-se sempre o superior e o invencível. Na verdade, não é bem assim…

Transpondo esta visão da famosa Banda Desenhada para o nosso futebol, a visão que temos é muito semelhante. De um lado temos os clubes do “Império” onde um até se autointitula como o maior do mundo e o outro que – apesar de ser pequeno – quer-se fazer de “grandalhão” perante os demais; do outro lado da barricada há o clube designado da “Aldeia” e que segundo os primeiros, não passa de um “clubezeco”.

Ora bem, a realidade mostra-nos que os “imperiais” tentam tudo por tudo para derrotar o clube da “Aldeia”, as armas usadas são várias e cada vez mais sofisticadas. Tentam tudo por tudo para rebaixar o tal “clubezeco” mas o sucesso esse é quase nulo. Mas para quê tanta importância dada ao clube da “Aldeia” senhores do “Império”? Se o clube em questão é tão insignificante, porque é que lhe dão tanto destaque?

Será que não se apercebem que quanto mais destaque derem ao clube da “Aldeia” mais forte ele se torna? Essa tal importância que vocês lhe dão tem o mesmo efeito da porção mágica do Astérix. E já sabem os efeitos que essa porção tem…

Os clubes do “Império” até se dão ao desplante de afirmarem que vêm à ”Aldeia” para a invadir (como a imagem acima mostra), a verdade é que nas suas imensas tentativas são quase sempre recambiados para a sua terra com uma abada das grandes. O pior, é que o “clubezeco” não se tem contentado só com as vitórias no seu território. Não, já vai de forma constante ao território do “inimigo” para os humilhar na sua própria casa! A vergonha dos “imperiais” chega a ser tanta que apagam a luz e ligam o sistema de rega para ninguém se aperceber de tal humilhação.

O irónico é que na Banda Desenhada, enquanto os Gauleses – Astérix e Obélix – se divertem a bater nos Romanos, aqui os “Aldeões” divertem-se a dar “cabazadas” das grandes aos “imperiais” e fazendo deles o melhor bombo de todas as festas (com ou sem luz). Há cada coincidência…